Thursday, January 17, 2008

There will be blood...

Gostava de fugir. De criar um universo paralelo onde não existisse o ruido da panela de pressão. Não o objecto em si mas essa que me querem impingir e que de repente fervilha dentro de mim.
Gostava que fosse facil acordar sem sentir o fel do vento lá fora, o mau hálito dos que me ferem a cada instante por acharem que sabem tudo, o desdém dos que sob a tutela "amigos", desferem os mais afiados golpes na carne. A cada novo corte o sangue torna-se mais fino. Escorre pelo folha em branco. Em palavras ausentes de som ou coerência poética ou sequer frásica. Continuo a escrever tal qual pianista acaricia as teclas do seu piano, em puras e intensas explosões melódicas, ainda que inaudiveis. Palavras soltas, fugazes, membros adjacentes desta voz, minha.
Canso-me só de respirar. Sofoco nas lágrimas que me afogam o fôlego. Tenho o peito aprisionado num espartilho. Quero soltar um grito, por mais breve que seja e não consigo.
Não respiro. O sangue continua a escorrer, nesta página. Em mim.
Gostava que não fosse preciso uma ferida exposta para que se notasse. Gostava que não fosse preciso um murro na mesa para se ouvir uma opinião. Gostava que as pessoas não sentissem essa necessidade premente de magoar os outros para se sentirem bem consigo próprias. Gostava que não fosse preciso gritar para finalmente ouvirem os meus sussuros. Gostava... Gostar, gostava... De tanto coisa, mas o vento não se faz de gostos. Antes talvez componha a sua trajectória de desgostos. Acumulando gemidos de dor.
A minha energia esgota-se em sofreguidão. A minha voz seca-se. As minhas palavras sangram.
Porque será que ninguém ouve?
O vento zumbe...
O tempo treme...
O instante consome...
A pagina revela, uma e outra palavra. todas elas conjugadas com esse rasgo da minha escrita.
Se ao menos não fosse preciso gritar, para se ser ouvido...

Os sinos tocam. A voz cala. O sangue escorre. O pano cai...

1 comment:

Anita said...

sofremos pelos outros... por aquilo que esperamos deles... por sonharmos que as pessoas gostam de nós só porque nós gostamos delas... infelizmente o mundo não funciona assim e a grande maioria das pessoas é egoísta e prefere sangrar alguém até à morte do que escutar gritos de ajudas... como me disse alguém hoje, as pessoas não nos desiludem, elas são o que são, nós é nos iludimos a nós próprios imaginando-as diferentes... good point ;)

Beijinhos da silly de serviço :D