Thursday, February 28, 2008

can't stop running

Fechava-se a porta uma e outra vez. Em movimento continuo, como se de uma montagem quase sincrona se tratasse. Na imagem, ausência de som. No olhar de quem espreita essa porta fechar vezes sem conta, a implosão de todo o ruído. Estilhaços sonoros por todo lado, a descontrolar selvaticamente o acto de respirar, pensar, sentir...
Numa correria sem igual, pensamentos ultrapassando-se, sobrepondo-se, misturando-se numa ânsea contínua. Todas as noites o despertar para um pesadelo...E outro...E mais outro...E ainda outro... Na mesma noite, várias narrativas penosas, sobretudo de perda...de solidão... O cansaço levara a melhor e o sono fechava-se no vácuo...como a porta. Uma e outra vez...
Acordar em sobressalto, pingos de suor a demarcar a marcha do "sonho", escrevendo nos lençóis a ausência... Pousar novamente a cabeça na almofada. Outra história, outro enredo, outra ânsea que não descola... Nesses estilhaços de ruidoso penar onírico, cada pedaço crava fundo, na impossibilidade de sentir força nas linhas das mãos, de percorre-las com os dedos, de intuir palavras...
Ficaram fechadas numa caixa. Pequeno baú atirado ao mar, com chave em terra. Folhas soltas boiando ao sabor das ondas, num gigantesco borrão de frases disconexas e desaguadas em tinta... Estar...
Mais palavras...num borrão...
Tentar articular um sentir demasiado forte para as correntes do mar e demasiado intenso para a dimensão dos oceanos... Apenas por e em palavras... Uma existência incansável na página em branco...
Voltam as narrativas fragmentadas, o não dormir silêncioso, atacando pela calada...
As entrelinhas perdidas pelo rebentar da ondulação na costa...
Fugir?